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Julho 2008 . Poço dos Negros 120
Tulla Ellice Finklea
É provável que a tendência que temos nestes dias para
estabelecer, ou para estabelecerem por nós, ligações entre
factos e informações mais ou menos previsíveis, mais ou
menos úteis, me tenha feito pensar em Cyd Charisse
num dos ensaios de Strange Fruit.
O espaço de ensaio acontecia naturalmente no lugar onde
decorria a montagem da peça, um cenário inacabado feito
de coisas por vir, que se confundia com a sua própria
desmontagem, os objectos ou a falta deles de alguma forma
anunciavam um acabar.
Em determinado momento, com um dos actores no espaço,
entra o outro em cena descendo do ar, a partir de uma
acrobacia suspensa numa trave e praticando, de seguida, no
solo, ao som de uma música, uma pequena dança.
Esses passos de dança, que articulavam em simultâneo
braços e pernas, acompanhavam a música, e esse todo não
sendo mimético em relação a nada em particular, evocava a
memória ampla do espectáculo, daquilo que já assistimos
repetidas vezes ao vivo em teatros, em cinemas ou mesmo
na televisão.
Foi nesse momento que as imagens retrospectivas que
vira a propósito do desaparecimento (penso que no dia
anterior) de Cyd Charisse confluíram justamente nos
breves instantes daquela dança tão desajeitada se a
tivéssemos que comparar à perícia coreográfica dos filmes
onde charisse participou.
Ao longo do ensaio o actor (efectivamente, a actriz)
continuou juntamente com o seu parceiro, a descrever no
espaço outras ocupações da cena igualmente coreográficas.
Pareceu-me que, mais do que a necessidade de dar um
sentido ao conjunto de textos fragmentários, o que ali
ressaltava era a importância que os dois actores
demonstravam nos seus movimentos em cena e nas
transições entre os vários episódios do espectáculo anotados
em duas grandes folhas colocadas na parede.
Tratava-se de pensar para onde ir, mas sobretudo de como
ir, de aqui para ali. Era igualmente a duração e a solenidade
do acto e do gesto que tornava tudo aquilo potencialmente
significativo, e que substanciava a passagem daquele
mesmo tempo. Aquele podia ser o texto da peça, o
movimento e o modo de estar ali em cena.
Todavia, à medida que assistia às sucessivas deambulações
dos dois actores e ao adensar do universo onde estes se
moviam, parecia que esse texto queria escapar ao espaço
onde estava a ocorrer. Os elementos arquitectónicos e os
materiais em cena, bem como os fatos e as palavras, que
estavam ali como pretexto e apoio à ocupação de um lugar,
tinham a ver com um outro tempo e um outro espaço fora
dali. O espaço cénico reduzido (como o da própria loja onde
a companhia de teatro tem a sua residência) e as sugestões
veiculadas pelos actores enunciavam de certa forma a
transposição daqueles mesmos limites. a cena caminhava
no sentido daquilo que permanecia (ou permaneceu) para
além dela, em espaço, mas essencialmente em tempo.
Irremediável circunstância ou não do teatro, o que era ali
feito aparecia como uma evocação de algo vivido e
experienciado anteriormente pelos próprios ou por outros. E
como alguém referiu, os acontecimentos passados não
aconteceram, estão à espera de acontecer no momento em
que pensarmos neles. Por isso, se de facto o presente e este
momento agora (a circunstância) que nos permite fazer com
que o passado exista e regresse, o presente é de forma
recíproca, feito da ausência de materiais e pensamentos que
necessitamos construir agora para os usar agora.
E talvez por isso que e possível nestes dias, ao ler vários
obituários, fazer passado ao reemergir os tantos
nomes que teve uma mesma actriz e bailarina. Lily Norwood
quando debutou nos écrans de Hollywood em “Something to
Shout About”, Felia Sidorova e Maria Istomina enquanto
dançou sob a orientação de David Linchine e Leonid Massine
nos Ballets Russes de Montecarlo, Tula Ellice Finklea quando
nasceu em data pouco precisa (1921 ou 1922) em Amarillo
no Texas. Indeed, life’s a strange fruit.
On October 1960, Klein jumped. Deliberately, consciously, rationally even, he decided to totally give up on his precious grains of life. He didn’t do it to become immortal - he jumped, so says the title, into the void of the unknown, that which is behind the common; that which disobeys the ethical.
Nevertheless, Klein had the strangest certitude at his heart - a profound belief - that he would live. Maybe, I should be more clear here: Klein believed that he’d be able to come back from the void, and consequently to conquer death.
Death - certainly not what you’ve been thinking of - that end which awaits us all; No, I think that Deleuze’s definition of death, not as a state by its own right, but rather as a void returned by the terminated function of life, the function which performs, since birth, nothing but “dying” - that’s what Klein thought to be overcoming.
By his deep desire to live, Klein gave up on his life, reversing the act of dying, creating a new state of things in which his time capsules were not popping out and collapsing but regenerating themselves - the perpetual odor of birth - with every new grain of time. A complete pleasure.
It was not until two years later, that Klein hit the ground of the void beneath. He died, ceasing to regenerate himself, five months after marrying his beloved wife, Rotraut Uecker, for whom he died two years earlier; for it is said that Rotraut Uecker was present at the moment of the jump.